Em evento com players do setor financeiro e do BC, Capco apresentou estudo sobre uso do pagamento instantâneo no Brasil e as inovações que já estão chegando para consumidores e empresas
O Pix chegou para ficar no Brasil e segue crescendo exponencialmente abrindo possibilidades nos próximos anos com benefícios em relação ao papel moeda, cartões de débito e crédito e possibilitando a integração total com aplicativos de mensagens para tornar as compras mais rápidas e intuitivas, chegando até a transferências e pagamentos internacionais em questão de segundos. Essas oportunidades de negócios e de inclusão que devem se materializar nos próximos anos foram discutidas no evento “PIX no Brasil: Cenário e Oportunidades”, promovido pela Capco, consultoria global de gestão e tecnologia dedicada ao setor de serviços financeiros do Grupo Wipro, em que foram apresentados os resultados do estudo online feito com 2 mil respondentes sobre o uso do Pix no Brasil, e que ainda contou com a presença de players do setor financeiro que ajudaram a viabilizar a criação do sistema de pagamento instantâneo.
“Embora o Brasil tenha o sistema financeiro mais avançado do mundo em muitos aspectos e tenha tido boa adesão ao Pix, existem desafios como melhora da jornada do cliente no momento de usar o sistema e necessidade de aperfeiçoamento constante da segurança, mas o estudo mostra que as possibilidades de negócio e inclusão são promissoras e devem ser conquistada em um curto prazo”, destacou Alexandre Bueno, head do Capco Labs em São Paulo durante apresentação do estudo. O evento, que aconteceu no Inovabra, teve mediação de Carmem Albuquerque, diretora executiva de novos negócios na Capco, e apresentação de Gustavo Nadais, Business Partner DHO da Capco. O conteúdo na íntegra e todas as discussões farão parte de mais um episódio do podcast Capco Talks, que pode ser acessado nas principais plataformas de streaming.
As novas fases e inovações do Pix devem ser implantadas em breve, de acordo com Mayara Yano, assessora sênior no Departamento de Competição e de Estrutura do Mercado Financeiro do Banco Central do Brasil (BCB). Segundo ela, os objetivos na implantação do Pix (digitalização, democratização, inclusão, conveniência, competição, inovação e redução de custos) foram alcançados e superaram as expectativas, o que vai viabilizar o constante avanço do sistema. “O Brasil teve a adoção mais rápida do mundo, passando de 30 transações per capita no seu início para 70 transações per capita atualmente. Está presente em diversos pontos de vendas e atividades, realmente facilitando o acesso de quem não tinha cartão, por exemplo. Hoje já são 779 instituições regulares que oferecem o sistema e 60 estão em processo de adesão”, explicou ela.
De acordo com Mayara, isso foi possível porque a criação e implantação do Pix foi toda feita pelo BCB em colaboração e constante troca de experiências e informações com agentes do sistema financeiro com a finalidade de aprimorar o sistema. “Os objetivos da criação do Pix têm sido atingidos com impacto positivo no varejo dando acesso a novos clientes que antes não podiam comprar por não terem cartão e hoje fazem transações com Pix. Eles geram mais receita graças à confirmação quase instantânea de pagamento, permitindo que lojas físicas se reinventem com introdução de pagamento por QR Code. O impacto é positivo para pagadores e recebedores”, destacou Mayara.
Na agenda evolutiva do Pix prevista pelo BCB para os próximos meses e anos, estão a implantação de novas funcionalidades como Pix Automático, Pix Internacional e Pix Cobrança 2.0. “Essas e outras inovações são constantemente debatidas para estimular ainda mais o uso pelos consumidores e o uso pelos pontos de venda. É necessário investir em educação financeira para a população e também para os lojistas entenderem os benefícios que o Pix possui e pensar nesse meio de pagamento de forma mais inovadora, o que muitos já fazem com recebimento via Pix e uso de QR Code. Os meios de pagamento costumam ter forte caráter cultural: quem usa cartão de crédito, prefere usar sempre e quem usa o débito faz da mesma forma, mas ao conhecer as funcionalidades de outra forma de pagamento, as pessoas podem mudar esses hábitos”, acredita ela.
“Enxergo cada vez mais o Pix sendo a principal forma de pagamento no futuro até mesmo para transações internacionais de forma instantânea, pagamentos de bens de alto valor sem necessidade de dinheiro porque o aperfeiçoamento constante que temos observado vai tornar a jornada cada vez mais fluida, fácil e segura”, concluiu a assessora sênior do BCB.
As instituições financeiras aceleraram seus processos tecnológicos e oferecem cada vez mais possibilidades dentro dos cronogramas de inovação do BCB, que incluem Pix e Open Finance, na opinião de Leandro Lucas, Chief Product Officer do Bitz, conta digital gratuita do grupo Bradesco. “A evolução é constante porque é necessário entender a experiência do cliente e do lojista para oferecer soluções que atendam esses atores e os estimule a desfrutar as oportunidades”. Para ele, a experiência vista até aqui com o Pix vai viabilizar ainda mais a oferta de crédito, pois as instituições vão criar soluções específicas para esse produto.
Além de toda a tecnologia, o comportamento do consumidor no cotidiano deve ser observado e integrar as agendas de inovação. É o que explica João Bezerra Leite, com atuação em Advisory Boards, mentor e investidor de Fintechs e D&I influencer. “O pagamento instantâneo inclui de verdade quem não tem cartão e isso acontece porque as transações são mais simples. No exterior, em locais como China e Inglaterra, esse fenômeno já é observado há mais tempo com jornadas de pagamentos mais rápidas e integradas com os mensageiros instantâneos. Essa transformação digital também agora já pode ser vista no Brasil por meio de pessoas que, por exemplo, já recebem seus pedidos por celular pelo WhatsApp e aceitam pagamentos por Pix. Senhoras que vivem fora dos grandes centros e vendem artesanato já fazem isso, impulsionadas pela necessidade durante a pandemia e graças ao acesso ao celular. Creio que essa vivência deve ser observada de perto para trazer insights e inovações para o sistema, pois é a experiência das pessoas que faz a diferença”, comentou Bezerra Leite.
André Borges, head de APIs na Vila PIX do Bradesco, destacou a importância do banco ter feito a implantação passo a passo com o BCB e a importância da regulação do sistema para o mercado. “O caminho está bem pavimentado e agora é nosso dever contribuir para que tanto grandes empresas quanto pequenos varejistas relatem suas necessidades e dúvidas para trazermos soluções direcionadas”, disse ele. “Para os próximos anos vejo a adoção do PIX como forma de pagamento de forma cada vez mais massiva e acessível. Um dos setores que mais podem se beneficiar é o mercado de gamers, que movimenta US$ 90 bilhões anualmente. Hoje só usam cartão para adquirir produtos e serviços nas plataformas, mas a implantação do QR Code do Pix, por exemplo, em ambientes de jogos como Fortnite e Roblox, facilitariam o acesso de muito mais usuários, podendo ampliar a participação em outras plataformas, como o Metaverso”, aposta ele.
Além de toda a funcionalidade e leque de serviços tecnológicos, Monalisa Balestero, da área de Negócios na Vila PIX do Bradesco, ressaltou que o motor de segurança na instituição é desenvolvido sempre focado na segurança do cliente. “Ele identifica transações suspeitas e faz o bloqueio, solicitando aguardar alguns minutos para averiguação e após análise ocorre a liberação ou não. Outra funcionalidade é que ele é programado para aprender o comportamento do cliente, o que ajuda na redução de fricção durante o uso do sistema, tornando o uso mais simples e sem riscos”, explicou ela. Para atender os clientes PJ, de acordo com os executivos do Bradesco, o banco investe nos projetos de inovação e promove cocriação de produtos e soluções com empresas nas unidades do banco e na Vila Pix é formada uma comunidade para conversas e trocas constantes com empresas habitantes no espaço e start ups.
No dia a dia dos consumidores, Fauze Yunes, presidente da ALOBRÁS (Associação de Lojistas do Brás), percebe uma boa aceitação dos clientes e lojistas, mas ainda enxerga desafios a serem superados. “Do ponto de vista dos comerciantes esperam-se mais funcionalidades como, por exemplo, parcelamento, pois esse público lida com valores mais altos e nem sempre consegue negociar pagamentos à vista e, ainda, um reforço na segurança, porque já houve casos de falsos comprovantes de Pix lesando comerciantes”, comenta ele. “Nas compras de varejo sentimos uma migração do papel moeda para o formato digital pela possibilidade de desconto pagando à vista. No atacado não houve tanta mudança porque os envolvidos precisam de mais prazo de pagamento e parcelamento e ainda usam cheques e duplicatas. “Creio que a educação e o maior conhecimento do sistema devem proporcionar mais adesão porque quem precisa comprar, mesmo sem saber ler, faz uso do dinheiro. Com novos meios de pagamento, todos devem aprender com o passar do tempo também”, acredita.
Um dos desafios expostos no levantamento da Capco é a necessidade de simplificação da jornada do cliente no momento das compras. “O estudo mostrou que fraudes, integração com softwares de pontos de vendas e melhora na jornada do cliente para permitir mais velocidade no atendimento são grandes desafios que o Pix deve superar. Enquanto no uso do cartão de débito ou crédito o consumidor dá 3 ou 4 passos (confere o valor da compra, insere e digita a senha ou aproxima o cartão e recebe o recibo), hoje na compra com Pix com uso de chave ele passa pelo dobro de etapas (confere valor, entra no aplicativo do seu banco, busca a opção Pix, clica em chave, digita a chave, confere a operação, digita senha e confirma e aguarda comprovante)”, explicou Mathias Mattos, consultor sênior na Capco Brasil. “Simplificação dessa jornada pode impulsionar ainda mais o uso do Pix”, conclui.