Economia avança 0,9% com impacto da demanda doméstica por bens e serviços, diz IBGE; mercado esperava taxa de 0,8%
Folha de São Paulo – 3.dez.2024 às 9h00Atualizado: 3.dez.2024 às 10h35 – Leonardo VieceliEduardo Cucolo – Rio de Janeiro e São Paulo
A economia brasileira cresceu 0,9% no terceiro trimestre deste ano, na comparação com os três meses imediatamente anteriores, apontam dados do PIB (Produto Interno Bruto) divulgados nesta terça (3) pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).
O avanço veio levemente acima da mediana das previsões do mercado financeiro, que era de 0,8%, conforme a agência Bloomberg. O intervalo das estimativas ia de 0,6% a 1,1%.
O novo resultado indica um crescimento menor em relação ao segundo trimestre, quando a alta foi de 1,4%. “Pode ser algum sinal de desaceleração da economia, mas não muito relevante ainda”, afirmou a coordenadora de Contas Nacionais do IBGE, Rebeca Palis.
Conforme a técnica, o crescimento menor está associado em parte a um patamar elevado de comparação, já que a atividade econômica vem em alta no país. O PIB está no nível recorde da série do IBGE, iniciada em 1996.
Pelo lado da demanda por bens e serviços, Rebeca destacou os dados do consumo das famílias e dos investimentos produtivos na economia, medidos pela FBCF (Formação Bruta de Capital Fixo).
Os componentes avançaram 1,5% e 2,1% no terceiro trimestre, respectivamente. As taxas foram semelhantes às registradas no período imediatamente anterior (1,4% e 2,2%). O consumo do governo cresceu 0,8%, após redução de 0,3%.
Rebeca afirmou que, apesar da aceleração recente, a inflação ainda não está em “níveis altíssimos”. Isso teria contribuído para manter o consumo das famílias com desempenho positivo.
“O governo continua com política de transferência de renda, o que favorece o consumo das famílias”, acrescentou.
Ainda de acordo com a técnica, outro estímulo vem do aquecimento do mercado de trabalho. Ao impactar a demanda por bens e serviços, esse movimento também ajudaria a explicar a alta nos investimentos produtivos das empresas.
No setor externo, houve baixa nas exportações (-0,6%) e avanço nas importações (1%). Esses resultados reforçam que o PIB está sendo puxado pela demanda doméstica.
Pelo lado da produção, o resultado do terceiro trimestre foi impulsionado pelas altas dos serviços (0,9%) e da indústria (0,6%). A agropecuária, por outro lado, recuou (-0,9%).
Em 2024, a produção no campo foi afetada por problemas climáticos, incluindo período de forte seca e queimadas, além de enchentes no Rio Grande do Sul.
Quando comparado com o terceiro trimestre do ano passado, o PIB teve crescimento de 4%. A mediana das projeções do mercado financeiro era de 3,9%, segundo a agência Bloomberg.
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Nos últimos quatro trimestres, o PIB acumulou crescimento de 3,1%, de acordo com o IBGE.
O mercado financeiro projeta crescimento de 3,22% para o acumulado deste ano, conforme a mediana do boletim Focus, divulgado pelo BC (Banco Central) na segunda (2).
A previsão dos analistas subiu com o passar dos meses, em meio a um desempenho mais alto do que o esperado inicialmente. Para se ter uma ideia, ao final de 2023, a projeção do Focus para o PIB de 2024 era de aumento de 1,52%.
O ritmo do indicador levou a um debate se a economia está ou não crescendo acima do seu potencial, ou seja, se pode ou não pressionar a inflação. O tema divide opiniões.
O PIB trimestral é divulgado cerca de 60 dias após o fim do período de análise e apresenta as óticas da oferta e da demanda Fabio Braga/FolhapressMais
Para o PIB de 2025, a projeção do mercado é de alta de 1,95%, segundo o boletim Focus divulgado na segunda-feira. Um dos desafios para o avanço da atividade é o aumento da taxa básica de juros pelo BC.
No início de novembro, o Copom (Comitê de Política Monetária), ligado à instituição, decidiu intensificar o ritmo de alta e elevou a taxa Selic em 0,5 ponto percentual, de 10,75% para 11,25% ao ano.
O aperto monetário ocorre em meio a uma desconfiança de investidores com o cenário fiscal no Brasil. O quadro levou a cotação do dólar para a faixa de R$ 6, o que representa uma ameaça para a inflação.
O aumento dos juros pelo BC é uma tentativa de esfriar a demanda por bens e serviços. O objetivo é frear o avanço dos preços e segurar as expectativas de inflação, que corre o risco de estourar o teto da meta deste ano (4,5%).