O Globo – 12 de Julho de 2020

A pandemia de Covid-19 deixou a aposentada Ivone Vale Montavani, cardiopata, de 79 anos, angustiada. Como milhões de brasileiros acometidos por doenças crônicas – só nos programas de acompanhamento dos planos de saúde são 2,5 milhões – ela temia que dar continuidade ao tratamento pudesse aumentar o risco de contaminação pelo novo coronavírus.

– Não sabia o que fazer. Quando minhas médicas me ligaram e informaram que manteriam meu acompanhamento à distância foi um alívio. Elas me mandam os exercícios físicos para fazer em casa e ainda falo com a psicóloga toda semana conta Ivone, que faz acompanhamento também com cardiologista, geriatra, fisioterapeuta e nutricionista.

ATENDIMENTO À DISTÂNCIA

Consultas on-line, ligações semanais, mensagens por WhatsApp, visita de enfermeiros, entrega de medicamentos. Os planos de saúde tiveram que inovar e aumentar o contato com seus usuários para manter doentes crônicos e pacientes que inspiram cuidados em dia com seus tratamentos na quarentena.

O número de pessoas envolvidas nas iniciativas de promoção de saúde e prevenção, no entanto, ainda representa pouco mais de 5% dos mais de 46,8 milhões de usuários da saúde suplementar do país. De olho nos dados, a Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) tem promovido reuniões virtuais com operadoras para saber as estratégias adotadas durante a pandemia:

– Ficamos especialmente preocupados com a possibilidade de beneficiários com doenças crônicas interromperem seus tratamentos por medo de sair de casa. A crise sanitária deixou ainda mais evidente a importância desse cuidado coordenado e pode ser uma forma de aumentar o engajamentos dos usuários nessas iniciativas – diz Rogério Scarabel, diretor-presidente substituto da AN S.

Para chamar atenção dos consumidores para os programas, a ANS está prestes a assinar um convênio com um instituto de pesquisa para desenvolver uma metodologia de avaliação e atribuir uma nota a cada iniciativa:

– A ideia é que esses programas sejam vistos como um critério para escolha do plano de saúde – afirma Scarabel.

A busca ativa pelos pacientes e a telemedicina são instrumentos importantes para aumentar o engajamento dos usuários. Usando essas duas ferramentas, o Grupo NotreDame Intermédica, do qual Ivone é cliente, expandiu em 40% os atendimentos nos programas de medicina preventiva durante a pandemia:

– O teleatendimento foi a forma que o mercado encontrou para ter resolutividade sem expor os pacientes – diz Walter Moschella, diretor médico do grupo.

A autogestão Saúde BRB, com pouco mais de nove mil usuários, em Brasília, também registrou alta de 36% nas consultas, de março a junho.

– Antes do coronavírus apenas 10% dos atendimentos eram via telemedicina. Hoje 90% são à distância ressalta Maria Luiza Barros, coordenadora de Serviços de Saúde da empresa.

CUIDADO PARA TODOS

Dona de uma carteira de 476 mil beneficiários, com média de idade de 68 anos e quase 20% com mais de 80 anos, a Prevent Sênior realizou mais 229 mil ligações e 500 mil atendimentos à distância desde 18 de março. Para pacientes solitários ou com dificuldades de conexão, mensalmente, 380 atendimentos são feitos por enfermeiros munidos de tablets para ajudá-los com a consulta on-line.

– Ampliamos os contatos com os nossos usuários, preocupados que sem a orientação adequada pudessem descompensar gravemente nesse período – diz Pedro Benedito Batista Junior, diretor-executivo da Prevent Sênior.

Com o auxílio da enfermeira e da telemedicina, Irede rani, de 73 anos, que tem doença bronco pulmonar crônica e faz uso de respirador horas por dia, conseguiu diagnosticar uma inflamação pele sem sair de casa.

– A enfermeira veio aqui em casa, ligou para o médico, dando as orientações técnicas sobre o problema. Tirou fotos pelo tablet, encaminhou para ele, que nos deu o diagnóstico – conta Juçara Ribeiro, de anos, irmã de Irede e responsável pelos seus cuidados.

Para Denise Durão, vicepresidente e diretora médica da Unimed-Rio, além da telemedicina que veio para ficar, outras iniciativas devem ser incorporadas à rotina de cuidados. Entre elas, o monitoramento de quem procura o pronto-socorro e programas de entrega de medicamentos em casa a pacientes de risco.

A médica Martha Oliveira, diretora executiva da consultoria Designing Saúde, diz que a pandemia fez com que empresas e pacientes vissem a casa como local de cuidado:

– Não é preciso ir ao consultório ou hospital para cuidar da saúde. Este é um aprendizado importante. No póspandemia, o desafio será mudar o mindset das operadoras, para que entendam que a coordenação do cuidado não deve ser um programa voltado apenas para beneficiários que gastam mais por serem doentes crônicos, mas uma política para toda a carteira.