Folha de São Paulo – Por Antônio Penteado Mendonça – 10/12/2023 | 23h07Atualização: 11/12/2023 | 11h00 – 2 minde leitura

O ano de 2023 chega ao fim com muitas dúvidas sobre os mais variados assuntos, mas uma que é pertinente e deve ser analisada com cuidado é qual o futuro dos planos de saúde privados. Dependendo da resposta, estaremos diante de uma situação caótica, na qual o SUS (Sistema Único de Saúde) não dará conta da demanda porque um elevado número de pessoas que atualmente usam os planos de saúde privados será obrigado a se valer do sistema público.

Praticamente 80% dos planos de saúde privados são coletivos e a imensa maioria é de planos empresariais, que são contratados pelas empresas a favor de seus colaboradores. Em segundo lugar vêm os planos por adesão e em terceiro, com poucas chances de crescer, os planos individuais.

Faz tempo que esse desenho se mantém inalterado, só que agora a corda está ameaçando arrebentar e o prejuízo será dos consumidores. Os planos de saúde privados atendem 50 milhões de brasileiros, injetando na saúde mais de 65% de todo o dinheiro investido nela. De outro lado, o SUS, com mais de 150 milhões de pessoas que dependem dele, tem apenas 35% dos recursos destinados à saúde.

Se os planos de saúde privados colapsarem, o número de pessoas atendidas pelo SUS vai crescer significativamente
Se os planos de saúde privados colapsarem, o número de pessoas atendidas pelo SUS vai crescer significativamente Foto: Eduardo Valente/Estadão

Se os planos de saúde privados colapsarem, o número de pessoas atendidas pelo SUS vai crescer significativamente, mas os recursos seguirão sendo os mesmos.

Não haverá transferência do sistema privado para o sistema público pela simples razão de que o sistema privado deixará de existir, pelo menos com seu desenho atual.

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Boa parte da população coberta pelos planos de saúde privados, se perder seus empregos, perde também o benefício, que, diga-se de passagem, é o terceiro sonho de consumo do brasileiro. Também é verdade que os planos individuais se tornaram inviáveis em função do reajuste de preço determinado pelo governo.

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Ainda que existam planos de saúde que não devam dar lucro, eles devem faturar pelo menos o mínimo indispensável para fazer frente às despesas. De outra forma se tornam insolventes e, depois de certo tempo, quebram, deixando seus segurados na mão. E este cenário é mais real do que pode parecer.

Não é verdade que os planos de saúde ganham milhões de reais por ano. Ao contrário, parte deles está no vermelho, outro grupo está mal e mal se aguentando e apenas umas poucas operadoras apresentam resultados positivos.

Tanto isso é verdade que um dos maiores grupos de planos de saúde do mundo está deixando o país e negociando sua operação no Brasil. Eles não estão fazendo isso porque não gostam da gente, estão fazendo porque não querem seguir perdendo dinheiro. E com certeza eles não são os únicos em posição delicada, com a diferença que os outros não têm um acionista rico para cobrir os prejuízos.

A forma de alterar este quadro e proteger o futuro do sistema é a introdução de novos modelos de planos de saúde privados. Eles existem e dão certo ao redor do mundo. Porque nós não autorizamos a sua introdução no país é a pergunta sem resposta. Com eles, os planos custariam menos, as operadoras teriam margens melhores e o governo ficaria feliz, porque seria possível aumentar o número de segurados atendidos por eles, desonerando o SUS.