Notícias | 4 de agosto de 2023 | Fonte: InfoMoney
A redução de 0,5 ponto porcentual na Selic, anunciada na quarta-feira (2) pelo Copom, marca o início do ciclo de cortes na taxa, mas não deve ter um impacto imediato e relevante ao consumidor de seguros.
“Das componentes do preço do seguro (risco, despesas administrativas, despesas comerciais, tributos e lucro), a única que está relacionada à taxa de juros é o lucro (montante necessário para remunerar o capital do acionista). Com a queda da taxa de juros, o custo do capital também cai, mas continua elevado”, explica Alexandre Leal, Diretor Técnico e de Estudos da Confederação Nacional das Seguradoras (CNseg).
De acordo com ele, a queda da taxa de juros gera uma expectativa de alta no consumo das famílias e no investimento das empresas, aumentando também a demanda por seguro. “As empresas, acomodando essa maior demanda na estrutura atual delas, ou seja, sem incremento das despesas administrativas, podem levar a uma redução do preço também, mas nada relevante”, complementa Leal.
Na avaliação de John Liu, diretor executivo de Investimentos da seguradora Zurich, a medida poderá também “beneficiar as contas públicas do governo com a diminuição dos encargos de juros”, além de trazer o alívio nos encargos financeiros de famílias e empresas.
Em relação ao mercado segurador, Liu sinaliza que um dos eventuais impactos poderá ser em relação à parcela alta de investimentos que as seguradoras historicamente possuem em seus balanços, tornando a receita financeira uma parte importante do resultado das companhias. “Com a redução da Selic, as seguradoras provavelmente buscarão compensar a menor receita financeira com eficiências, seja operacional ou uma melhor qualidade no processo de underwriting [‘subscrição’, que é o processo de análise que visa à aceitação ou recusa de riscos para fins de seguros]”, observa o executivo da Zurich.
Impactos diferentes
Rodrigo Leite, professor de Finanças e Controle Gerencial do COPPEAD/UFRJ (Instituto de Pós-Graduação e Pesquisa em Administração da Universidade Federal do Rio de Janeiro), concorda que o impacto inicial da queda da Selic para o consumidor deve ser muito pequeno.
Porém, o cenário pode ficar mais atrativo na medida em que a taxa for caindo ao longo dos próximos meses. “No longo prazo, com as quedas se mantendo, vai diminuir o custo do seguro, porque diminui o custo para as seguradoras, já que diminui o custo do dinheiro. Todo o modelo, quando você estima o sinistro (o pagamento do prêmio pelo consumidor), tem que contabilizar o valor do dinheiro também”, observa Leite.
Na análise do professor, quanto “mais arriscado” é o seguro contratado pelo consumidor, maior será o impacto, porque quanto maior o risco mais caro ele fica. Por exemplo: um seguro de vida para um jovem é menos arriscado do que um seguro de automóvel.
Isso porque o jovem tem menos chances de morte natural do que o de um automóvel ser roubado. Outro ponto é que se o risco é muito alto, as seguradoras também precisam contratar um seguro para garantir um volume maior de eventuais indenizações – é o chamado resseguro. “Nas operações de resseguro, a transferência de risco ocorre com muito mais frequência. E tudo isso, esse custo financeiro, está atrelado à Selic”, continua Leite.
A avaliação de Amâncio Paladino, diretor de produtos e previdência da XP Seguros, é parecida. De acordo com ele, não só o seguro automóvel, mas todos os segmentos que estão no guarda-chuva de ramos elementares podem ser os impactados em um primeiro momento.
“Basicamente eu estou falando de seguros patrimoniais, de bens, de garantia, de seguros atrelados a crédito e tudo mais. Certamente eles vão sofrer o impacto positivo mais rápido do que no caso do seguro de pessoas, porque vai ter um aumento da atividade econômica, que vai ampliar o nível de crédito. Nesse cenário vai ter mais contratação do seguro prestamista para crédito”, contextualiza Paladino.