O Globo – 30 de Outubro de 2019

O Globo conta que, em março, o aposentado Raimundo Covatti, de 63 anos, teve de abrir mão do seguro de seu carro, um Gol 1.0 fabricado em 2015, devido a uma alta do preço da apólice. Morador de Campinho, ele vinha segurando as contas na ponta do lápis, ano após ano, porém não conseguiu renovar mais a cobertura, inflacionada pelo crescimento do número de roubos de veículos no Estado do Rio desde 2016. Raimundo é um entre milhares de motoristas afetados pelo aumento da criminalidade. O cenário atual, no entanto, vem desenhando uma mudança no setor, com significativa redução dos valores.

Um levantamento feito pela Bidu Corretora a pedido do GLOBO aponta que o preço médio dos seguros no Rio caiu 17,5% na comparação entre agosto do ano passado e o mesmo mês deste ano, o último com números disponíveis. A apólice do carro de Covatti, por exemplo, foi de R$ 4.619, em 2018, para R$ 3.485: uma queda de 24,6%.

A queda vem a reboque da diminuição dos índices de violência. Dados do Instituto de Segurança Pública (ISP) do Rio mostram que, entre janeiro e setembro, comparando 2018 e 2019, os casos de roubos de veículos despencam 23%: foram 30.625 registros nos últimos nove meses, contra 39.969 no mesmo período do ano passado.

– Estou rodando menos para não correr tanto risco enquanto estou sem seguro. Tenho orçado mensalmente os valores e minha expectativa é contratar uma cobertura em novembro. Vou tirar um peso das costas e aliviar meu bolso – disse Covatti.

O Rio chama a atenção quando o assunto é roubo de veículos. Apesar de ter apenas 8,2% da população do país (segundo o IBGE) e contar com 12,5% da frota nacional de veículos, o estado registra 23% dos casos ocorridos no Brasil: são 21.634 no primeiro semestre deste amo. No entanto, o número em 2018 foi consideravelmente maior no mesmo período, com 28.488 ocorrências, de acordo com o Sistema Nacional de Informações de Segurança Pública (Sinesp).

PROJEÇÃO OTIMISTA
No último recorte mensal (de junho para agosto) disponível, orçado pela Bidu, o Estado do Rio marcou queda de 47,4% no preço do seguro para homens. A cotação, feita com a média dos dez veículos mais vendidos em julho deste ano, reduziu em R$ 1.884 o preço final pago pelos motoristas.
– O Rio estava abandonado. Nós estávamos sem segurança. Uma das áreas em que o governo mais investiu e reforçou foi a segurança pública. Os resultados são evidentes. Os preços do seguros vão cair de forma generalizada, e começamos a ter aceitação dos riscos em locais que haviam sido descartados – disse Henrique Brandão, presidente do Sindicato dos Corretores do Rio(Sincor-RJ).

Em 2017, a explosão no número de veículos roubados levou seguradoras a recusarem clientes em algumas áreas do estado ou a aumentarem bastante o valor do contrato, a ponto de o proprietário do automóvel desistir de fechar negócio. Uma grande companhia do setor chegou a abandonar o mercado fluminense por causa dos altos números de sinistros.
Coordenador da Escola Nacional de Seguros, José Varanda afirmou que, com a redução dos índices de roubos de veículos, a tendência é que as empresas voltem a atuar em todo o estado:

– As companhias trabalham com estatísticas para calcular o valor do seguro. Em determinadas áreas, o preço ficava tão exorbitante que, em termos de custo, não compensava nem para a seguradora nem para o consumidor. Por isso, em algum momento acabamos tendo restrições em certas áreas. Mas estamos vendo isso melhorar bastante. O resultado vem se refletindo não só no custo das apólices, mas no fim das restrições.

O corretor de seguros Weysber Antunes Barbosa, que atua há três décadas em Itaboraí, comemora o cenário atual. O município teve a segunda maior redução no estado de roubos de veículos:
– Para se ter ideia, duas seguradoras que haviam suspendido negócios em Itaboraí voltaram a fechar contratos este ano.