Folha de São Paulo – 7.abr.2025 às 10h20 – Claudinei QueirozSão Paulo

Nos últimos anos, com o aumento do número de celulares em uso pela população, também aumentaram as estatísticas de roubos e furtos desses aparelhos, que se tornaram objetos do desejo de quadrilhas cada vez mais especializadas, devido ao seu alto valor e por conter os dados bancários dos usuários.

Assim, os aparelhos podem ser usados para crimes financeiros e golpes, podem ser revendidos para outras pessoas, desmontados para terem suas peças vendidas ou ainda podem ser enviados para outros países. Para cada um desses casos há quadrilhas específicas, segundo o delegado-geral da Polícia Civil de São Paulo, Artur Dian.

Dian explica que o grande problema enfrentado pela polícia é que é praticamente impossível conseguir um mandado de busca e apreensão para cada aparelho furtado ou roubado. Por isso, ele diz, foi feito um grande trabalho de levantamento de dados dos boletins de ocorrência e também de investigação para identificar os principais pontos de receptação e venda dos aparelhos na cidade de São Paulo.

Celulares em cima de uma mesa na delegacia de polícia
Aparelhos recuperados pela polícia na região da cracolândia, no centro de São Paulo, um dos pontos de receptação e revenda dos celulares – Divulgação/Deic

Desta forma, foi possível conseguir mandados coletivos, o que resultou na apreensão de milhares de aparelhos e na prisão dos criminosos. Somente na operação Big Mobile, em janeiro, foram apreendidos cerca de 27 mil celulares na região central de São Paulo. Desses, segundo Dian, apenas 5.000 foram devolvidos aos donos. Os demais não possuem boletins de ocorrência ou ainda não tiveram os números de Imei identificados.

Por isso, o delegado-geral destaca a importância de as pessoas fazerem o boletim de ocorrência quando tiverem seus aparelhos levados por bandidos, além de bloqueá-los imediatamente. Confira abaixo o que pode acontecer com o celular após ser furtado ou roubado.

Qual o destino do celular furtado ou roubado?

Segundo o delegado-geral da Polícia Civil de São Paulo, Artur Dian, há três tipos de caminhos para esses aparelhos:

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Celular usado para outro crime
Há quadrilhas especializadas em utilizar os celulares apenas para cometer crimes financeiros ou golpes. Assim, ao pegar o telefone celular desbloqueado –quando roubam no momento em que a pessoa esta usando ou obrigam a vítima a colocar a senha–, o bandido já coloca no modo avião para depois acessar contas bancárias e fazer transações financeiras, compras online ou pedir dinheiro para amigos e familiares por meio de aplicativos de mensagens. Depois de usado, o aparelho é revendido para outras quadrilhas, que vendem o celular, comercializam suas peças ou o enviam para o exterior.

Celular como objeto de desejo
Nesse caso, quem rouba ou furta não se importa se o aparelho está ligado ou desligado, porque ele quer o bem material para revendê-lo em feiras ilegais, para utilização própria ou para ser desmontado e ter suas peças vendidas em lojas de manutenção de celular no país.

Celular enviado para o exterior
Os aparelhos mais modernos podem ser enviados para países que não assinam o acordo internacional de cooperação para bloqueio de telefones roubados, principalmente, na África e na Ásia. Nesses locais, os aparelhos são utilizados sem que as operadoras brasileiras possam rastreá-los. A Polícia Federal já identificou e prendeu passageiros de voos internacionais atuando como mulas, com centenas de aparelhos escondidos na bagagem. Empresas de fachada também são usadas para fazer a receptação e envio ao exterior.

Onde são revendidos os celulares em São Paulo?

De acordo com a Polícia Civil, há muitos destinos possíveis para um aparelho furtado ou roubado. No entanto, o trabalho de investigação identificou cerca de dez locais na capital paulista com a maior concentração desse crime.

O principal deles é na rua Guaianases, entre as ruas Aurora e Timbiras, na região central de São Paulo. No entanto, há vários outros, como a rua Santa Ifigênia, a rua 25 de março, a praça da República e a rua Glicério, além da favela de Paraisópolis.

O que fazer se meu celular foi furtado ou roubado?

  • Faça o BO em uma delegacia física ou na Delegacia Eletrônica dando o máximo de informações possível, principalmente, o número de Imei e o contato do usuário. O Imei, sigla em inglês para Identidade Internacional de Equipamento Móvel, é uma espécie de RG ou chassi que identifica cada celular.
  • Se não tiver o número do Imei na hora que fizer o BO, procure-o (veja como abaixo) e depois entre novamente no site da Delegacia Eletrônica para complementar o BO;
  • Se já tiver registrado o BO, basta aguardar o contato da polícia, caso seu celular seja recuperado;
  • Nos celulares que possuírem a ferramenta do fabricante que permite a localização e bloqueio remoto do equipamento, o consumidor poderá também apagar os dados armazenados e, com isso, proteger sua privacidade. No entanto, é importante fazer esse processo antes de avisar a operadora do roubo ou furto para cancelar a linha. Caso a linha seja cancelada antes de apagar os dados, seu aparelho ficará sem internet, mas seus dados continuarão no aparelho e poderão ser acessados;
  • Entre em contato com sua operadora e peça o cancelamento da linha;
  • Se tiver se cadastrado no programa Celular Seguro, acesse o aplicativo no computador e faça o alerta de furto ou roubo, para que as autoridades policiais e a Anatel procedam com o bloqueio.

Como obter o número de Imei?

Para achar o número de Imei do celular, o consumidor pode:

  • Procurar na caixa do celular;
  • Procurar em um adesivo atrás da bateria;
  • Digitar *#06# no celular e apertar a tecla para ligar;
  • Caso seja furtado ou roubado e não tenha o número do Imei guardado, pode ligar para a operadora da sua linha. Por seu número de telefone é possível obter o Imei.

Como evitar que meu celular seja roubado?

  • Evite falar em público, em ruas muito movimentadas ou em shows;
  • Evite andar com o celular na mão;
  • Deixe o aparelho em locais seguros, como dentro de zíper, na frente do corpo e em local fechado;
  • Se tiver que falar em público, procure um local mais seguro;

O que é e como funciona o aplicativo Celular Seguro, do governo federal?

Programa do Ministério da Justiça e Segurança Pública lançado em dezembro de 2023, em parceria com a Anatel (Agência Nacional de Telecomunicações) e as operadoras, o Celular Seguro permite que o usuário cadastre seu número na ferramenta por meio de site ou aplicativo disponível para os sistemas Android e iOS (iPhone). Em caso de furto, roubo ou perda, a própria vítima pode acessar o programa e efetuar o bloqueio do aparelho e de aplicativos financeiros. Mais de 2,6 milhões de pessoas já se cadastraram.

Nesta sexta-feira (4) o aplicativo passou a ter uma nova funcionalidade: envia notificações via aplicativos de mensagem e SMS para celulares roubados ou furtados ativados com uma nova linha telefônica. Se uma pessoa adquirir um celular roubado ou furtado, quando ativar um novo chip, será avisada para comparecer a uma delegacia e devolver o celular. Quem não realizar a entrega poderá responder por crime, a depender da investigação policial.

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    Recuperei o meu aparelho, como faço para realizar o desbloqueio?

    Se você fez o BO, bloqueou o seu aparelho corretamente e teve a sorte de a polícia recuperá-lo, você vai precisar desbloqueá-lo novamente para voltar a usá-lo. Para isso, é necessário entrar em contato com a polícia ou com a operadora da sua conta para realizar o desbloqueio.

    Porém, se fez o bloqueio usando a ferramenta disponibilizada pelo fabricante do aparelho, você terá de entrar em contato com o atendimento do fabricante para saber o procedimento a ser seguido. Neste caso, apenas o fabricante pode realizar o desbloqueio.

    O que a polícia faz para recuperar os aparelhos roubados?

    Segundo o delegado-geral Artur Dian, a Polícia Civil realiza ações preventivas junto com outras forças de segurança do Estado. No Carnaval, por exemplo, policiais fantasiados se infiltraram nos blocos de rua, prenderam membros de algumas quadrilhas e apreenderam com eles diversos celulares.

    Outra ação foi realizada ao final de alguns blocos. Os policiais se dirigiram para locais conhecidos que comercializavam os aparelhos, principalmente no centro da capital, e prenderam algumas pessoas que saíam dos blocos com celulares roubados para vendê-los nesses locais.

    Dian também afirma que existe uma integração muito grande entre a Polícia Civil e a Polícia Federal nos aeroportos para reprimir o envio de aparelhos para o exterior. O trabalho de investigação dos civis identifica a rota da quadrilha e avisa os agentes da PF, que prendem os membros da quadrilha diretamente na alfândega.

    Policiais civis se disfarçam de foliões fantasiados em blocos em SP

    Policial civil com a fantasia de Chapolin e o distintivo

    O que a Polícia Civil faz quando recupera um celular

    • O primeiro passo é saber se é possível obter o número de Imei do aparelho;
    • Caso o celular esteja bloqueado ou com a tela quebrada, os técnicos da polícia fazem uma perícia para tentar identificar o Imei;
    • Depois, os investigadores pesquisam se há algum boletim de ocorrência registrado para aquele número de Imei;
    • Se houver, eles entram em contato com as vítimas pelos números contidos no BO para agendar a devolução. Se não conseguirem encontrar a pessoa por telefone, vão até o endereço para localizá-la.

    Comprar celular roubado ou furtado é crime?

    Sim. A pessoa que comprar um aparelho registrado como furtado ou roubado pode ser processado pelo crime de receptação e pode pegar uma pena de 1 a 4 anos de reclusão e multa.

    Se o aparelho estiver cadastrado no Celular Seguro, do governo federal, o comprador receberá uma mensagem informando que ele possui restrições e que é preciso levá-lo a uma delegacia.

    Quais as penas relacionadas ao furto/roubo de celulares?

    • Receptação: de 1 a 4 anos de reclusão e multa
    • Furto: de 1 a 4 anos de reclusão e multa
    • Roubo: de 4 a 10 anos de reclusão e multa. A pena aumenta em um terço até a metade se o roubo for cometido por duas ou mais pessoas, se a vítima é mantida sob o poder dos bandidos ou se a ameaça for exercida com uso de arma branca. A pena aumenta em dois terços se houver ameaça com arma de fogo. Se a arma de fogo for de uso restrito, a pena será dobrada.
    • Latrocínio (roubo seguido de morte): de 20 a 30 anos de reclusão e multa

    É possível consultar a situação de um celular antes de comprá-lo?

    Sim. Se você for adquirir um celular de segunda mão, que não seja em uma loja oficial, você pode conferir se o aparelho possui algum impedimento no site Consulta Celular Legal, da Anatel (Agência Nacional de Telecomunicações). Basta digitar o número do Imei, clicar no quadrado “Não sou robô” e depois em “Consultar”. O resultado da pesquisa informará se há ou não restrições de uso.

    Essa consulta também está disponível no aplicativo Celular Seguro, que entrou em fase de testes.