CQCS – 04/09/2017Criado para conquistar o mercado de mais de 30 milhões de veículos que não têm seguro, fatia correspondente a cerca de 70% da frota nacional, o seguro popular de automóvel ainda está longe de atingir esse objetivo. Dia 29 de agosto, a Associação Paulista dos Técnicos de Seguro (APTS) realizou debate, no auditório do Sincor-SP, para discutir as expectativas do setor e os problemas que impedem a evolução desse seguro.Pesquisa com os sem seguroSegundo Felipe Milagres, diretor da Azul Seguros, pesquisas que apontam por que muitos donos de automóveis não fazem seguro ajudaram a empresa a direcionar a construção do seu produto. Para a justificativa dos entrevistados que consideram o seguro caro e que admitem a incapacidade de pagar em até 4 parcelas, a empresa adotou a solução de um produto enxuto com preço competitivo (até 30% mais barato que o tradicional) e em dez prestações fixas.Em relação à baixa percepção do valor do seguro e da imagem de burocrática das seguradoras, apurada por pesquisas, a solução da empresa foi tornar o produto fácil de entender, com perfil simplificado (apenas cinco perguntas) e coberturas básicas (colisão, roubo, furto). O Azul Seguro Auto Popular é destinado a veículos com 5 anos ou mais, importância segurada de até R$ 60 mil e indenização de 80% ou 90% da tabela Fipe, além de assistência 24 horas e guincho em até 100 km.Mas, o seguro auto popular se tornou viável para a seguradora somente após a publicação da resolução do CNSP (nº 340), em dezembro de 2016, que permitiu o uso de peças de desmontagem oriundas de empresas credenciadas e também peças de reposição novas, que apresentem as mesmas especificações técnicas do fabricante. Com isso, a Azul pode reduzir o preço do seu produto a partir do uso de uma cesta de peças, que inclui peças originais, peças de desmontagem provenientes da Renova Ecopeças, empresa da Porto Seguro criada há três anos, e peças de fabricantes homologados e certificados.Boas perspectivasO seguro popular de automóvel da Tokio Marine Seguradora, segundo o diretor de Automóvel da Luiz Padial, oferece cobertura inicial para colisão e incêndio para veículos com cinco anos ou mais de uso e pode custar até 50% menos que o seguro tradicional. Ele explica que a indenização é ajustada entre 80% e 90% da tabela Fipe e o valor da franquia difere no momento do sinistro se o segurado optar por oficina de livre escolha ou referenciada. Os serviços de assistência, como carro reserva e vidros, são flexíveis e o pagamento do prêmio é facilitado em até 6 vezes sem juros ou em 12 parcelas fixas no débito em conta ou cartão de crédito.A Tokio Marine optou por utilizar no reparo de veículos peças novas compatíveis, que são oriundas do mercado alternativo, com as mesmas especificações técnicas do fabricante. O produto está disponível para 16 tipos de veículos (passeio, caminhões e utilitários de carga), cuja combinação pode atingir mais de mil versões. Ele também destacou a abrangência de oferta em dez cidades do país, adiantando que a empresa já somou outras dez cidades à lista.Em seis meses de operação, a empresa vendeu mil apólices, somando R$ 1,4 milhão em prêmios, e indenizou apenas nove sinistros, dos quais somente um por perda parcial. “Acompanhamos cada venda, até para ter a certeza de que foi uma venda consciente, e nos casos de sinistros, também verificamos o serviço da oficina”, diz Padial. A Tokio Marine calcula que no médio prazo a venda de seguro auto popular represente 15% de sua carteira.ReparaçãoJosé Nogueira dos Santos, vice-presidente do Sindicado da Indústria de Reparação de Veículos e Acessórios do Estado de São Paulo (Sindirepa-SP), e presidente da Câmara de Estudos de Colisão do Sindirepa Nacional, contou que a rede independente está presente em 5.572 municípios do Brasil. Segundo ele, o alto preço das peças combinado com a Lei do Desmonte(12.977/2014), que ainda precisa ser discutida amplamente pela sociedade e que demora a ser consolidada, eleva o aumento de furto de veículos e o comércio ilegal de peças.Para ele, a lei ainda não oferece solução para atender toda a demanda, pois a capacidade de abastecimento dos estabelecimentos legalmente instalados não atende a 1% da demanda do mercado de sinistro. Nogueira lembrou que nos Estados Unidos, o trabalho de desmontagem de veículos é realizado pelas próprias montadoras. Ele destacou a importância do reparador independente para a consolidação de qualquer projeto de melhoria de mobilidade, e que o objetivo da Câmara de Colisão é a aproximação do mercado reparador com o segurador, para que haja mais segurança. “Pois, somos um dos elos desta cadeia produtiva”.Garantia da qualidadeRepresentando a Fenacor, o vice-presidente na região Sudeste e presidente do Sincor-SP, Alexandre Camillo, tocou em um ponto crucial para a evolução do seguro auto popular: a garantia da origem e do estado de uso das peças recuperadas provenientes de desmanches. De acordo com a Lei do Desmonte, caberá aos Detrans dos estados regimentar e fiscalizar as empresas de desmontes para o registro e controle da origem das peças. “Criou-se a expectativa de usar peças recuperadas para reduzir o preço do seguro. Mas, o fato é que isso não se tornou realidade”, afirma.Segundo Camillo, falta aos Detrans um sistema informatizado, cujo custo atual está na casa de milhões de reais. Apenas o Detran de São Paulo adquiriu o sistema. Nos seminários itinerantes sobre a Lei do Desmonte, realizados pela Fenacor, ele observou que ficou clara a necessidade de se equipar os Detrans para a consolidação da lei. “Aí sim pode se pensar no seguro auto popular. A Fenacor e a CNseg se debruçaram novamente sobre o assunto. Está se avaliando também a força de contribuição junto aos Detrans na obtenção destes sistemas. Acredito firmemente que, em breve, teremos boas novidades”, diz.Fonte: