Notícias | 31 de outubro de 2023 | Fonte: O Globo

A proteção de motoristas e automóveis é tradicionalmente um dos principais nichos do mercado de seguros. É o que mais gera arrecadação para as seguradoras, mas também o de maior nível de sinistralidade. Por isso, seu custo, em geral, é mais alto do que o dos demais segmentos. O resultado é que a maior parte da frota brasileira, cerca de 70% dos carros, vai às ruas sem um seguro em dia. Para atrair mais segurados, o mercado tem aproveitado a modernização das normas regulatórias do setor para lançar produtos mais flexíveis, que possam oferecer garantias a quem dirige com custos mais baixos.

Para João Merlin, superintendente de Automóveis na Zurich, embora já seja um produto muito conhecido, o seguro de automóvel ainda tem um grande potencial de crescimento no país. E isso estimula as empresas a investir em inovações.

— O mercado de seguros de automóvel representa hoje mais de 60% da arrecadação dos seguros de ramos elementares, que excluem seguro de vida, capitalização, previdência e saúde. Ainda assim, apenas 30% da frota circulante no Brasil hoje tem seguro — destaca.

Os agentes do setor já sabem que o principal motivo para a baixa adesão é mesmo o alto custo do seguro, que tem encarecido nos últimos anos em função de alguns fatores. O principal deles é o aumento do preço dos carros zero quilômetro desde a pandemia, que afetou a produção dos semicondutores e, consequentemente, a de automóveis em todo o planeta. Na falta de carros novos nas concessionárias, houve um aumento na demanda pelos automóveis usados e seminovos, que por sua vez acabaram ficando mais caros também. Quanto maior o valor do veículo, mais cara será a apólice, não tem jeito.

— Também tivemos um problema de falta de peças no mercado, que fez com que elas também ficassem mais caras. Isso gerou uma inflação na reparação dos veículos, pressionando o preço do seguro — acrescenta Merlin.

Uma das modalidades que têm sido experimentadas no setor é o seguro de carro do tipo pay per use (pagamento por uso, em inglês), uma alternativa para quem quer pagar prêmios menores. Nesses tipo de contrato, o seguro é ativado apenas quando o carro sai da garagem, reduzindo assim o valor da apólice para aqueles motoristas que não dirigem com muita frequência.

Essa modalidade já é oferecida no Brasil pela startup ThinkSeg, por exemplo. A companhia diz que o pay per use pode gerar uma redução de até 50% no custo do seguro de um automóvel. Para calcular o preço mensal da apólice, a empresa usa uma tecnologia de telemetria, que detecta quando o carro está em movimento, e analisa ainda fatores como velocidade, aceleração e uso do celular na direção. Bons motoristas pagam menos ainda.

Novas regras

A oferta desse tipo de serviço só é possível porque a regulamentação para os seguros de automóveis tem se modernizado. A comercialização de seguros intermitentes, por exemplo, como é o caso do pay per use, foi permitida por uma circular da Susep, órgão que regula o setor, de 2019. Em 2021, a autarquia publicou uma nova circular que flexibiliza ainda mais as regras pra este mercado, permitindo, entre outros pontos, o seguro de automóveis por CPF e não mais apenas por veículo, explica Marcelo Sebastião, presidente da Comissão de Seguro Auto da FenSeg. A modalidade é vantajosa para pessoas que têm mais de um automóvel.

Do lado das seguradoras, a aposta tem sido em benefícios que compensem o valor do seguro. A Porto Seguros (parte do Grupo Porto), por exemplo, firmou parcerias recentemente com a ConectCar e a Autoglass, oferecendo descontos e isenções de taxa para quem tem ou quer adquirir Seguro Auto.

— Acompanhamos as tendências do mercado e o comportamento dos clientes para trazer inovação nos serviços oferecidos. Para isso, contemplamos em nosso portfólio produtos que podem se adaptar às necessidades de cada tipo de cliente, como o Azul por Assinatura, nosso seguro auto com assinatura mensal (em vez de anual), possibilitando autonomia para decidir por quanto tempo o cliente deseja ter seu contrato ativo. Além disso, temos o Seguro Proteção Combinada, que é um único contrato que atende o carro e a casa do segurado — conta Rivaldo Leite, líder da Porto Seguros.

Motores elétricos

A entrada dos carros elétricos no mercado brasileiro também é outro ponto que tem chamado a atenção das seguradoras, que já começam a ampliar sua cobertura para abranger esses veículos e seus acessórios, como os cabos de carregamento de energia.

— Percebemos um crescimento da frota de veículos híbridos e elétricos no Brasil. Não estamos mais falando de uma projeção para os próximos cinco ou dez anos, mas de uma realidade que já vemos nas ruas. E os consumidores estão solicitando proteção para esse tipo de veículo, que tem componentes diferentes e envolve todo um conjunto de adaptações das apólices — diz João Merlin, da Zurich.

A seguradora oferece desde 2019 cobertura para roubo e furto de cabos de carregamento de carros elétricos e ampliou o limite para R$ 800 mil, em razão do preço alto desses veículos, que geralmente são importados. Para garantir o melhor preço, o ideal é que o segurado peça a orientação de um corretor, recomenda Marcelo Sebastião, da FenSeg:

— O corretor é o profissional habilitado para prestar uma consultoria sobre as opções de garantias obrigatórias e acessórias, levando em consideração o uso do veículo, e assim sugerir limites e cláusulas adequadas. Além disso, ele vai assegurar que o cliente está contratando um seguro e não uma proteção veicular, que pode gerar confusão, e não é comercializada por corretores.