Sonho Seguro – 13/04/2023 09:10 – POR DENISE BUENO
Se tem um setor que está “rezando” para dar certo as tratativas de acordos entre bancos e Americanas e assim evitar a falência da varejista é o de seguros. Os executivos respiraram aliviados nesta semana ao lerem no Valor Econômico notícias sobre uma trégua na batalha judicial entre Americanas e seus bancos credores, com uma previsão de aporte dos acionistas da varejista de até R$ 12 bilhões, segundo fontes próximas às negociações.
Se isso realmente ocorrer, o setor de seguros prevê que terá um desembolso bem menor no pagamento das indenizações de seguro de crédito comprados pelos fornecedores da Americanas para se precaver de riscos como o que se concretizou com o pedido de recuperação judicial: não receber os valores das mercadorias.
A preocupação é válida. As estimativas de pagamentos de indenizações ultrapassam R$ 3 bilhões. É comum ouvir em eventos do setor executivos espantados com pedidos de perdas e advogados felizes que seus clientes perceberam o valor do seguro que até então tinha registrado poucos sinistros.
“Nada melhor para mostrar a importância do seguro para os consumidores do que o uso da proteção financeira num momento de perda inusitada como foi neste caso. Ninguém esperava por este problema numa empresa do porto da Americana”, comentou um advogado envolvido no processo de pagamento de uma indenização de R$ 25 milhões a um fornecedor da Americanas.
Já o tom nas seguradoras é de apreensão. “Temos um aviso de possível perda de US$ 400 milhões. Mas com a negociação da Americanas com os credores, quem sabe o fluxo de negócios se restabeleça e o “sinistro” não se consolide. Caso se confirme, certamente o seguro de crédito sofrerá reajustes de preços para compensar as perdas e equilibrar o resultado das companhias”, disse um executivo na condição de anonimato.
Todas as perdas de seguro de crédito são resseguradas, ou seja, as seguradoras compram seguro de um pool de resseguradoras, que dividem o risco entre si para garantir que haverá dinheiro para pagar um risco catastrófico, como tem sido chamado o caso das Americanas, que veio seguido por outras grandes empresas revisando seus balanços, desencadeando um temor generalizado para quem opera com riscos de crédito diante do risco reputacional.
O farol amarelo foi aceso no dia que a Americans pediu recuperação judicial em 19 de janeiro, alegando dever R$ 42,5 bilhões, tendo o trio de acionistas de referência Jorge Paulo Lemann, Marcel Telles e Carlos Alberto Sicupira. A maioria dos bancos já decidiu em fazer a provisão integral dessa perda no resultado financeiro de 2022. “Então, o que vier daqui para frente, é um alivio”, cita o segurador.
Em recente entrevista, Kaspar Mueller, CEO de resseguros para a América Latina da Swiss Re, disse que o farol amarelo está aceso para o seguro de crédito no setor de resseguro. O principal fator de ganho ou lucro de uma varejista, depende basicamente de duas variáveis: emprego e crédito. Sem isso, é inevitável um cenário de desaceleração da economia que vai impactar também o setor de seguros, seja no crescimento das vendas daqueles que descobriram como o seguro pode ser um aliado em momento de crise, ou no aumento do volume de indenizações pagas.
“Para nós, o mais importante neste assunto é o risco reputacional. Estamos aqui para sermos parceiros de longo prazo e nos comprometemos a pagar milhões se algo der errado. Mas a reputação é nossa prioridade número um. Se eu olhar para um negócio e acreditar que há risco para a nossa reputação, então é claro que vamos evitar completamente, mesmo que ele possa ser lucrativo”, finalizou Mueller.