A virada de chave do seguro para o mundo digital é repleta de desafios, oportunidades e de riscos. Esta é a impressão deixada pelos especialistas que se revezaram no primeiro dia de debates da Trilha de Seguros, um dos eventos paralelos do CIAB Febraban, nesta terça-feira (11). Identificar logo as demandas dos consumidores e rever seu modelo de negócios para atendê-los, monitorar o comportamento dos usuários em redes sociais para ampliar a oferta de produtos e serviços e, a despeito do resultado, marchar na trilha digital a passos largos parecem ser alguns dos insights importantes extraídos dos dois painéis de seguros discutidos no encontro de São Paulo.
O diretor Técnico e de Estudos da CNseg, Alexandre Leal, foi o moderador do painel, que reuniu como debatedores o diretor de Marketing Science do Facebook na América Latina, Daniel Arantes, e o CIO da Porto Seguro, Marcos Sirelli. Eles discutiram as implicações da transformação digital no mercado segurador durante o painel “As redes sociais e o comportamento dos consumidores”.
Daniel Arantes citou números – como os 2,2 bilhões de usuários mensais do Facebook e os mais de um bilhão no Instagram – para dimensionar o desafio de entender o consumidor, ainda mais no caso do mercado de seguros. “O que isso nos mostra?”, indagou o especialista em redes sociais. “Que o consumidor está superconectado, opera em multicanais e não quer a oferta de apenas uma empresa”, concluiu. De qualquer forma, é possível se relacionar com o público por meio das redes sociais, é também possível utilizá-las para vender produtos e serviços.
Ao passar a palavra para Marcos Sirelli, CIO da Porto Seguro, o executivo da CNseg perguntou o quão distante de atender os anseios desse novo consumidor está o setor. Sirelli assegura que a rede social será o caminho para conectar as seguradoras com outras redes e, a partir daí, dar uma nova configuração aos produtos e serviços ofertados pelo setor. “Ainda temos muito a explorar para chegar a um produto personalizado. Mas certamente a rede social será o caminho. Ela é muito poderosa. Mas, por enquanto, queremos entender como fazer isso sem que as pessoas se sintam invadidas em sua privacidade. Essa troca tem de ser trabalhada no campo da ética. A própria sociedade tem muito a aprender”, sentenciou.
Também ficou claro que o mercado nacional dá passos rápidos no uso de tecnologias digitais, tema do segundo painel, que contou com o indiano Venugopal Shivram, consultor sênior Estratégico de Analytics e Big Data da Tata Consultancy Services (TCS), e o brasileiro Curt Zimmermann, diretor de TI e Operações da Bradesco Seguros. O moderador desse painel foi Luis Freitas, gerente de Tecnologia da Informação da CNseg.
Segundo Shivram, a indústria de seguros dá passos largos na utilização de tecnologias como Inteligência Artificial (IA), Machine Learning (ML) e Automação Cognitiva para trabalhar os dados que permitam a oferta de uma subscrição personalizada no futuro. Por enquanto, os dados servem para melhorar e agilizar os processos e criar novos negócios. “Temos muitos exemplos da vida real. Uma seguradora de vida nos Estados Unidos, por exemplo, oferece cotações de seguro de vida com base em uma selfie”, afirmou.
Segundo Curt, da Bradesco Seguros, o Brasil ainda está engatinhando, mas já aplica as tecnologias no mesmo ritmo que mercados de seguros em países desenvolvidos. “Conseguimos, de alguma forma, até pela presença de empresas globais, avançar em passos parecidos com os países desenvolvidos”, afirmou ele. Segundo Curt, o Brasil tem algumas peculiaridades que outros países não têm. “Acredito que a tecnologia vai mudar a forma de comercialização, mas, muito mais, a prestação de serviços. Também acredito que o mercado caminha para a personalização das ofertas, mas temos de aprender como precificá-las. Muitas vezes vemos que o preço não faz sentido para muitas pessoas dentro de um grupo. Temos muito a aprender”.