Por assessoria de imprensa do Sindseg PR/MS – André Marassi – com fotos de Jaime Costa – publicação 17/04, atualização 19/04
Com locação máxima no auditório do Palácio Avenida, em Curitiba, os CEO`s das três grandes companhias seguradoras com sede no Paraná, Edward Lange (Sancor), Roque de Holanda (Junto) e Ricardo Iglesias (Centauro), protagonizaram um evento de altíssimo nível na noite da última terça-feira (16). Eles fizeram uma análise crítica sobre os três diferentes segmentos do seguro em que atuam, Agrícola, Garantia e Benefícios.
O 3º evento do Ciclo de Palestras Comemorativas ao Centenário do Sindseg PR/MS foi aberto pelo presidente Altevir Prado, que agradeceu a presença dos palestrantes e dos cerca de 170 funcionários de seguradoras, corretores e autoridades que compareceram. “A gente fica orgulhoso de ter vocês aqui conosco nessa noite especial em que reunimos três grandes personalidades, três líderes do Mercado de Seguros”, disse Altevir, destacando que “um dos pilares da atual gestão é ampliar o conhecimento para que o mercado tenha profissionais cada vez mais inteligentes e mais abastecidos de cultura”.
Após a abertura, os três convidados fizeram palestras individuais e sucessivas com alta densidade informativa, e ao final, foram agraciados com a Comenda Medalha Centenária Rosácea Paranista. Honraria entregue pelo Sindicato no âmbito das comemorações do Centenário para personalidades que contribuíram com o mercado segurador paranaense.
Este foi o terceiro evento do ciclo de palestras, que já trouxe o presidente da CNseg, Dyogo Oliveira, em novembro do ano passado, e o presidente da Bradesco Seguros, Ivan Gontijo, em fevereiro deste ano. Para encerrar o ciclo, haverá um último evento/palestra ainda sem data definida.
Edward Lange
A palestra do CEO da Sancor Edward Lange foi bastante rica em dados sobre os impactos das mudanças climáticas na agricultura e a importância do seguro agrícola na segurança alimentar mundial. Ele mostrou que o Brasil está entre os maiores produtores e exportadores de alimentos, respondendo por cerca de 15% da produção mundial. Segundo ele, é um dos poucos países em que ainda há espaço para aumentar o cultivo sem precisar desmatar.
Lange destacou que em um contexto de maior frequência, severidade, abrangência e erraticidade dos eventos climáticos, a segurança alimentar é uma preocupação mundial e o Brasil ganha relevância estratégica, assim como o seguro agrícola. Disse que em razão dos prejuízos decorrentes de intemperes, a resseguradoras impuseram uma série de restrições para a tomada de risco e o seguro deveria subir de preço, mas não há espaço. “Os produtores rurais, com o aumento no seguro, coberturas menores, subsídio não disponível para todos, preço dos comodities em baixa, a conta dos produtores não está fechando e levando muitos a tomar uma decisão especulativa de assumir os riscos”.
Segundo Langue, existe um potencial de crescimento muito grande do seguro agro no Brasil, mas um dos principais detratores são as limitações orçamentárias no programa de subvenção que não deixam muita previsibilidade para o mercado segurador e para os produtores rurais. “De 2019 para 2023 a subvenção quase dobrou em valores, mas em hectares segurados foi praticamente o mesmo, não cresceu a proteção do agronegócio. O Brasil tem uma das penetrações de seguros nas áreas cultivadas mais baixas dos países de relevância agrícola. Menos de 20% das áreas cultivadas tem seguro. Argentina tem 60%. A sinistralidade do seguro agrícola no Brasil nos últimos cinco anos foi de 100%, índice combinado de 121%”.
Ele destacou também que seguro no crédito rural é fundamental para a continuidade da atividade agrícola, “para que o investimento seja feito em tecnologia para ir melhorando a produtividade e não para bancar uma lavoura que não deu certo por evento climático no ano passado”.
Como expandir
O Brasil tem 66% do território (540 milhões de hectares) protegido com mata nativa, EUA tem 20%, Argentina tem 14%. Metade desse total protegido são áreas de preservação dentro de terras rurais que não geram nenhuma renda, o produtor tem a obrigação de proteger. “É indispensável para o planeta mantermos essa proteção” disse o CEO da Sancor, destacando que sua empresa tem compromisso com o Plano de Desenvolvimento do Mercado de Seguros (PDMS) e está desenvolvendo uma fórmula para ampliar o cultivo e as cobertura protegendo o meio ambiente.
“Estamos avançando em um projeto em conjunto com o Departamento de Gestão de Risco do Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa) junto com uma plataforma tecnologia por satélite que conseguimos estruturar juridicamente um formato para remunerar os produtores agrícolas pela aquela área de mata nativa obrigatória que esta capturando CO2 ao longo do ano, convertendo aquilo no que se chama em um bônus pela remoção de carbono. Toneladas de carbono retidas, comprováveis, que vão ser vendidas para quem precisa compensar a sua emissão de carbono. Estamos estruturando um formato para que vire uma subvenção ambiental ao seguro agrícola. Para o produto soja (representa 45% da produção brasileira) vai representar cerca de 20% de desconto sobre o custo do prêmio, complementando a subvenção tradicional que já representa 20%” finalizou.
Roque de Holanda
O segundo palestrante da noite, CEO da Junto Seguro, Roque de Holanda, tem formação em Direito e participou ativamente das discussões para aprovação da nova lei de licitações (14.133) no Congresso Nacional. A palestra conceituou o Seguro Garantia, falou de seu potencial de expansão e tratou dos avanços na legislação que deram maior protagonismo ao produto principalmente nas contrações públicas.
“Hoje quando falamos em Seguro Garantia pensamos no judicial, que representa cerca de 80% do mercado, ou em contratação pública, mas na verdade existem mais de 30 modalidades. O Seguro Garantia pode ser apresentado em qualquer contrato em que se tenham direitos e obrigações entre as partes. Então existe um universo muito grande a ser explorado”, afirmou Roque destacando que existem 20 milhões de CNPJs ativos no Brasil mas apenas 300 mil se utilizam do Seguro Garantia, ou seja, “menos de 2% das empresas brasileiras que se valem desse produto”.
De 2015 até 2023 o Seguro Garantia vem crescendo vertiginosamente, com a exceção de 2021, que andou de lado em período de Pandemia, em 2023 cresceu 24% e neste início de ano está crescendo 23%. A Junto Seguros foi pioneira neste produto no Brasil e hoje possui 16,5% de market share. No ano passado rompeu a barreira de R$ 700 milhões de prêmios em Seguro Garantia, primeira vez que uma seguradora ultrapassa essa marca no país. “Um produto que não para de crescer com uma penetração baixíssima, portanto com um potencial de crescimento que não conseguimos nem imaginar ainda. Estamos nos dedicando em nossa empresa para expandir o produto principalmente em garantias tradicionais”, afirmou Roque.
O palestrante citou dados do Tribunal de Contas da União (TCU) mostrando que existem 20 mil obras federais, destas 41% (8.603) obras paralisadas, o que representa mais de R$32 bilhões de investimentos parados. A grande maioria dessas obras não tem sequer uma garantia. “Temos um problema crônico nas contratações públicas no país. Invariavelmente estamos falando de obras públicas que cumprem uma função social. Mais de 3.500 obras voltadas à educação em 2023, mas temos infraestrutura, mobilidade urbana, turismo, saneamento, educação superior, agricultura, habitação, enfim, dezenas de projetos e obras paradas por falta da correta garantia que possibilite a retomada e conclusão sem nenhum desembolso adicional por parte do Estado”.
Roque lembrou que a nova Lei de Licitações foi noticiada como a tábua de salvação para esse problema, e segundo ele, realmente o governo federal pensou em dar mais robustez e protagonismo ao Seguro Garantia. “Os principais pontos dessa nova lei, primeiro, continua com garantia de proposta no valor máximo de 1% da estimativa de contratação. Valor que o mercado entende ser baixo porque ainda existem empresas entrando em várias licitações, ganhando algumas, e deixando de assinar o contrato nas que não interessam. Causa um buraco naquela licitação, as outras empresas não conseguem executar naquele valor, de forma que o ente licitante precisa refazer todo o processo”.
Nas obras de grande vulto (acima de R$ 200 milhões) a apresentação do Seguro Garantia com cláusula de retomada é obrigatória. Essa cláusula significa que a seguradora preferencialmente assume a obra, contrata uma terceira empresa para concluir aquele projeto ao invés de simplesmente fazer a indenização em dinheiro. O percentual de garantia ficou definido em até 30%, o que segundo Roque, é suficiente para conclusão.
O palestrante falou sobre algumas questões técnicas para o bom funcionamento deste mecanismo que o mercado sugeriu mas que não foram incorporadas à lei. Ainda assim, avaliou positivamente o novo dispositivo legal e finalizou sua palestra destacando a primeira licitação realizada recentemente no Mato Grosso com cláusula de retomada. “Um feito impar e é um modelo a ser seguido não só para os demais estados mas também para o governo federal”.
Ricardo Iglesias
O último palestrante da noite, Ricardo Iglesias, ficou encarregado de falar sobre a especialidade da sua seguradora, a Centauro, que trabalha com Seguros de Benefícios. Ele brincou que coube a ele trazer prognósticos positivos, dar uma injeção de ânimo na plateia. “Para mim o Brasil continua sendo e sempre será um país de oportunidades. Apesar de todas as mazelas que nós temos, faz parte de um grupo muito exclusivo de países, é um dos poucos que reúnem população grande, PIB expressivo de mais de R$ 2 trilhões, e tem área”.
Iglesias deu uma dimensão do mercado de benefícios, uma indústria que cresce a 37% e, só no seguro de pessoas (não envolve previdência), gera R$ 62,5 bilhões em prêmios (seguro de vida, acidentes pessoais e risco). “A partir dos últimos oito anos, mudou um pouco a estrutura de negócio. O Seguro de Vida até dez anos atrás era vida em grupo. A partir de então, veio estabilidade econômica, novas gerações chegando para consumir e, mais do que isso, uma nova estrutura econômica, financeira e tecnológica. Operações digitais, operações de bancos que entraram por outros canais, um canal as vezes muito mais de assessoria e de consultoria do que só de venda de produtos”, disse Iglesias. Segundo ele, o que vem fazendo a diferença no nesse mercado são produtos que levam ao cliente uma proteção imediata, em vida, e também uma proteção para resolver o problema de seus sucessores.
Como grande desafio, Ricardo Iglesias apontou a necessidade de democratizar o acesso aos seguros de benefícios. “Ampliar a oferta de planos empresariais é um esforço para democratizar o acesso a esses planos. Hoje eles estão sendo contratados apenas pelo topo da pirâmide social”, disse.
Iglesias também defendeu que o seguro de pessoas e os planos de previdência possam ser oferecidos como instrumento de garantia para autoempréstimo, segundo ele, isto é algo que o mundo inteiro faz. “Todo indivíduo que tem um capital acumulado em algum lugar, ele deveria poder se auto emprestar esse capital por um spread muito pequeno e diferenciado em relação a uma operação bancária. Isso é uma falha que temos na legislação e que deve ser corrigida rapidamente. Hoje no VGBL pouquíssimas instituições já fazem isso, mas no PGBL, ainda é praticamente inexistente no país”.
Uma outra bandeira levantada por Ricardo Iglesias foi a de flexibilizar as regras para investimentos dos planos de saúde e previdência. “Em países como os Estados Unidos existe uma flexibilidade de investimento dos seus recursos muito maior do que temos no Brasil e com um nível de segurança bastante significativo, precisamos libertar essas amarras”, defendeu.
Esta última palestra foi encerrada com uma abordagem rápida sobre as novas tecnologias, como a Inteligência Artificial. “Nós trabalhamos em um mercado regulado, não podemos fugir das regras que o regulador estabelece, mas temos que olhar em volta para entender o modelo de disrupção que nós podemos implementar, porque senão alguém vai fazer. O grande risco hoje não está na indústria, está fora. Quem está do lado de fora do processo as vezes enxerga coisas que nós não vemos. Temos que trabalhar o conceito de nos tornarmos todos startups, porque se não fizermos, vamos ficar para trás e perder espaço no mercado. Trazer processos novos, metodologias, formatos. Nós falamos sobre drones fazendo análise de risco, análise de aceitação e de pagamento de sinistro. Temos que internalizar rapidamente todo tipo de tecnologia que esteja a nossa disposição, porque se não o fizermos, alguém fará”, concluiu o CEO da Centauro.