Sonho Seguro – 14 de Maio de 2020
Quais os produtos estarão na mira das seguradoras para atender à demanda que emanará no pós-coronavírus foi o tema do terceiro webinar realizado no dia 13 de maio, promovido pela CNSeg, a Confederação Nacional das Seguradoras. Marcio Coriolano, presidente da CNseg, foi o mediador do debate do qual participaram os presidentes das quatro Federações que integram a confederação. “Esse é um tema que merece aprofundamento não apenas em relação aos produtos, mas também a respeito das interrelações com os canais de intermediação – os corretores – e com os diferentes perfis de clientes que emanarão após a pandemia”, afirma Coriolano, para quem a participação dos presidentes traz consistência ao debate e respostas mais assertivas para o que ocorrerá em todos os segmentos do setor.
Ainda não é possível mensurar o impacto da pandemia nessa indústria porque os dados de março e abril só serão consolidados em junho. Certamente o setor será duramente impactado, assim como todos os outros da economia. Em 2019, a indústria movimentou mais de R$ 270 bilhões, com crescimento superior a 12% ante 2018. Em 2020, a pandemia Covid-19 certamente interromperá o ciclo de crescimento observado nos últimos anos. Como resiliência é a palavra chave do setor, todos se movimentam para que o setor siga protegendo a sociedade dos riscos a que está exposta.
O otimismo de uma retomada, no entanto, é certo, segundo os presidentes. Para eles, a crise despertou a consciência das pessoas sobre riscos e que elas precisam se proteger. Esse aumento, aliado à renda e ao crescimento da economia, vai possibilitar que seguros entre num novo ciclo de crescimento. E isso vale tanto para pessoas físicas como jurídicas. “Temos gargalos de infraestrutura, que devem gerar oportunidades para o setor. É uma questão de tempo para atividades ainda nas mãos do Estado serem transferidas para a iniciativa privada com os programas de privatização”, disse Antonio Trindade, presidente da Federação Nacional de Seguros (FenSeg) e CEO da Chubb Seguros Brasil.
Antes de debaterem o tema produtos, os participantes ressaltaram uma das principais preocupação de todos: a interferência dos três poderes (executivo, legislativo e judiciário) no funcionamento do setor, tendo como pano de fundo a existência de mais de 4 mil Projetos de Lei (PL) no Congresso Nacional. “A estabilização financeira é vital para a indústria de seguros. Sem ela, os seguradoras não estarão preparados para responder à crise. Querer que os seguradoras cubram coberturas excluídas em contratos, retroativamente, é colocar em risco a solvência do setor”, comentou Coriolano no início do webinar.
Os PLs tiram o sono dos executivos que atuam com seguros, com destaque para saúde, que concentra quase 1 mil projetos dos 4 mil em andamento. De acordo com o presidente da Federação Nacional de Saúde Suplementar (FenaSaúde), João Alceu Amoroso Lima, e também vice-presidente do Grupo NotreDame Intermédica, “não se muda um setor regido por uma lei especifica por um projeto ou liminar. A judicialização tem um custo caro para todos e isso elitisa o uso do plano de saúde”, afirmou.
Amoroso criticou a gestão unificada dos leitos de UTI pelo Sistema Único de Saúde (SUS) tira o equibilibrio do setor. “Apesar dos desafios, o sistema privado está funcionando bem. O poder público não tem tecnologia nem parâmetros para utilizar este sistema. Não existe um sistema de gestão ou gestores preparados para conduzir uma fila única de UTI de forma eficiente”, afirmou. Ele também disse que o segmento de saude se preocupa com a alta da sinistralidade. “A redução das cirurgias eletivas representam um alívio momentâneo, mas serão retomadas no segundo semestre, o que certamente causará uma sobrecarga do sistema.”
O foco da Agência Nacional de Seguros (ANS) tem sido o de manter o mercado em funcionamento. “A ANS fez uma série de ajustes para fazer face ao isolamento e apoiar a solvência das operadoras segue na pauta do setor e das operadoras.”
Trindade também teme projetos que tirem o equilíbrio dos contratos. “Isso está muito claro nas apólices e as seguradoras vão seguir o que está escrito. Se tem cobertura indeniza. Se não, não indeniza”, reforçou. Idem Jorge Nasser, presidente da Federação Nacional de (FenaPrevi) e presidente da Bradesco Vida e Previdência e da Bradesco Capitalização. “Não podemos esquecer neste momento que o seguro sempre foi parte da solução. Esse olhar de longo prazo é vital. Precisamos preservar as instituições e seus direitos, bem como entender que estamos em momento de exceção. Precisamos de tempo, entendimento e de diálogo. Essa é grande contribuição do regulador neste momento. Disso depende a nossa capacidade para ofertar novos produtos à sociedade”, disse.
Os participantes também estavam curiosos para saber mais sobre a posição das seguradoras em relação ao Sandbox, uma espécie de teste para novos produtos e serviços, regulamentada pelo órgão regulador. Por ser uma incubadora de insurtechs, o público queira saber o quanto isso pode impactar as seguradoras tradicionais. “Se o negócio for bom, será desenvolvido no mercado. Ou a empresa testada se junta a uma seguradora ou vai buscar um investidor. Trata-se, na minha opinião, de uma iniciativa saudável para criar novos nichos e formas de operar”, afirmou Trindade.
Sobre a tendência de homeoffice, todos foram unânimes em afirmar que a crise deixou todos mais pobres e isso faz com que todos tenham de se adaptar. A síntese é de que algumas companhias já usavam homeoffice e este processo vai se acelerar. Os escritórios vão encolher para balancear a receita menor, pois trabalham para dar resultado ao acionista. Com isso, o setor se prepara para mudanças tanto na forma de comercialização como também de produtos que atendam as novidades em riscos trazidas por funcionários trabalhando à distancia, entre eles os seguros para riscos contra ataques cibernéticos e também cobertura para equipamentos mais sofisticados instalados nas residências.
Novo normal – Neste pós pandemia, ninguém sabe ao certo como será a nova sociedade. Mas todos foram unânimes em afirmar a importância do corretor de seguros. Os executivos afirmaram que o profissional precisa estar muito ativo junto aos clientes para saber como assessorá-los neste momento pós pandemia. “Nenhum sistema tecnológico tira do corretor a interação com o cliente. E estar ao lado deles neste momento, ajudando-os com os riscos da retomada, é fundamental”, afirmaram os palestrantes. Boa parte das perguntas aos palestrantes foi direcionada ao o “novo normal” dos consumidores para que se possa criar produtos e serviços adequados, principalmente em saúde, vida e previdência, bens patrimoniais e riscos financeiros, bem como a tendencia dos títulos de capitalização. “Há uma grande incógnita ainda com tudo. Os seguros intermitentes, por exemplo, hoje já em uso em seguro de carro. As pessoas podem passar a usar mais o carro para se protegerem do contato com outras pessoas. Será? Não sabemos”, comentou Coriolano.
Trindade prevê que o setor passará por uma adaptação, sem grandes revoluções. “Nos todos vamos sair diferentes em função do gigantesco impacto social e econômico que o mundo passa, e vamos perceber a medida que a crise for sendo mais controlada”, comentou. Automóvel, incêndio, transporte e responsabilidade civil são as principais linhas de negócios no escopo da FenSeg.
Entre os destaques em demanda e soluções no pós crise, Trindade citou seguros cibernéticos com um dos mais promissores, uma vez que o homeoffice traz um risco de conexão que precisa ser gerido de forma mais atenta. Ele também citou o seguro residência, que certamente terão coberturas mais completas com a tendência de homeoffice se consolidando.
O seguro para pequenas e médias empresas, segundo ele, tem um viés de que a crise torna claro a importância da transferência de risco para o setor, o que elevará a demanda pelos seguros empresariais. Incêndio e transporte permanecem com o mesmo perfil já consolidado, mas a incorporado de tecnologias para ajudar na precificação e assim trazer ganhos aos clientes que gerenciam melhor o seu próprio risco.
Outro produto citado por Trindade que deve se consolidar com o aumento de demanda e de concorrência é o seguro viagem. “Será praticamente obrigatório a compra por quem vai viajar, diante da consciência de que fatos totalmente fora do nosso controle podem causar perdas significativas”.
Quanto a novos produtos, ele acredita que surgirão, principalmente os que usam índices paramétricos, que avançarão do seguro agrícola para outros segmentos. Em relação aos seguros intermitentes, aquele em que o segurado paga somente pelo tempo que usar, o executivo acredita que vieram para ficar. “Este tipo de seguro pode atrair um percentual da população interessa nesta modalidade em auto e residência. O tempo vai dizer como será essa experiência”.
Segundo Nasser, os brasileiros percebem agora, mais do nunca, a importância do seguro, principalmente de vida e previdência, para mitigar as perdas que muitos estão tendo neste momento. “No novo “normal”, os negócios serão centralizados em ferramentas online, sem intervenção humana. “Qual será o papel do corretor consultor. Vão perder espaço? Para mim, esse novo cenário reforça a importância do corretor, como em muitos momentos da nossa história, como um agente de revolução. E agora com a responsabilidade de ser mais preparado ainda. Por isso, o mundo pós pandemia será mais conectado, com soluções práticas para a nossa operação e para os nossos clientes. Sairemos mais humanos e valorizando a relação humana. E mais uma vez ganha o corretor que agregar mais valor ao seu cliente”, afirmou.
O presidente da FenaSaúde não acredita que haverá mudanças relevantes nos produtos de saúde que há são ofertados atualmente. Em 2019, o segmento vem reagindo a crise econômica que tirou milhares de pessoas da saúde suplementar com o lançamento de produtos mais acessíveis. Para ele, os grandes vencedores são as soluções digitais entre beneficiários e operadoras. “Ficou claro o salto que o sistema privado deu na digitalização. Também o homeoffice inovação para o setor e o que mais destaco é a telemedicina. Foi regulamentada às pressas e se tornou uma ferramenta de ajuda e suporte aos clientes, reduziu idas desnecessárias ao pronto socorro além de atuar rapidamente até mesmo no diagnostico do coronavírus. Certamente haverá ajustes, do ponto de vista regulatório e ética médica, mas a telemedicina veio para ficar”, segundo Amoroso.
A capitalização está otimista com o pós pandemia. “Vejo boas mudanças na comercialização dos produtos, que certamente ganharão um formato mais digital e adesão dos corretores neste processo, como também maior demanda por títulos com garantia de crédito, como a fiança locatária”, afirmou Marcelo Farinha, presidente da Federação Nacional de Títulos de Capitalização (FenaCap), e diretor comercial da Brasilcap Capitalização. “A criatividade nasce da angústia e com ela a necessidade de refletir. Aqui temos de contar com a ajuda do regulador, para tornar o produto mais aderente a uma nova realidade de distanciamento social. Somos altamente regulados e temos de preparar as bases para o pós crise. Em fianças locatárias, por exemplo, é preciso reconhecer firma. Precisamos aceitar assinaturas eletrônicas, por exemplo. Entender que mudou precisa ser mudado do ponto de vista legal é uma pauta relevante do nosso segmento”, finaliza Farinha.